sábado, 6 de agosto de 2016

Reflexo

Há um ano chegou uma nova vizinha. No primeiro dia, quando ela me viu disse apenas um oi tímido. Mas nesse dia da mudança eu tenho que confessar que fiquei curioso. Ela chegou com dois grandes sacos de lixo. Não tinha caminhão, nem carro cheios de caixas, nada, o que me pareceu muito estranho.
Para começar, onde ela ia dormir?

Eu gosto de passar um tempo sentado no meu quintal em busca de paz e sossego, observando a paisagem, acompanhado do meu cachorro, muito velhinho por sinal. E no verão fico mais tempo fora de casa do que dentro. Na semana seguinte ela se apresentou como Bianca, parecia mais amigável. Disse que não tinha sido feliz na sua última casa e não havia conseguido fazer amigos.

Eu disse coisas como meu nome e quanto tempo morava aqui. Como a conversa esfriou de repente ela deu meia-volta, olhou para mim e voltou para casa. Depois disso, as coisas mudaram. Sua cozinha, foi construída com vista para o meu quintal e, cada vez que eu saía de casa, eu poderia vê-la parada olhando fixamente para mim pela janela...e eu ouvia uma voz atrás de mim sussurrando.

- Oi amigo, tudo bem?

Eu pensava que a moça por ser tão sozinha queria ter amizades, mas por outro lado eu queria manter distância porque a próxima coisa que aconteceu é que ela apareceu com um cachorro exatamente parecido com o meu. Outro dia estava me desfazendo de umas roupas velhas e ela veio bater na minha porta perguntando se poderia tê-las.

Eu notei várias mudança nos seus comportamentos. Era como se todo esse tempo em que passou me observando ela estava tomando notas. O hábito que tenho de morder minha boca quando estou um pouco irritado. A forma como eu balanço meus cabelos. Ela tem o cabelo cortado e tingiu da mesma cor que o meu. Agora ela tem uma tatuagem. Não apenas qualquer tatuagem, porém, a minha tatuagem. Eu tenho um grande tribal nas costas. A dela era exatamente o mesmo. Ela estava tão animada quando me mostrou isso, como se fosse normal. Eu não tinha ideia de como ela fez isso.

Ela estava me imitando.

Eu me senti de alguma forma estranho.

Dias depois fui ao mercado e lá estava ela na rua conversando alegremente com um jovem funcionário. Ele literalmente ficou sem palavras e seu queixo caiu quando me viu.

Ele tinha pensado que estava falando comigo.

Eu notei que ela tinha uma outra tatuagem de um corvo com duas cabeças e era estranhamente familiar. Havia ido em um bar tempos atrás e havia uma moça lá, com exatamente a mesma tatuagem. Naquela noite, eu decidi que era hora de alguma investigação. Comecei verificando o facebook do bar, vendo os álbuns, e lá estava ela. A menina com a tatuagem do corvo.
Mas eu congelei.

Havia uma foto especial onde esta garota estava sorrindo. Ao lado dela, com o cabelo idêntica e com quase exatamente as mesmas roupas estava Bianca. Isso foi me enlouquecendo e eu realmente queria falar com alguém que a conhecia antes.

Agora meu cachorro havia escapado do jardim. Eu tinha passado o dia percorrendo as ruas em pânico e quando meu celular tocou, meu coração estava na minha boca. Meu número de telefone estava em seu colar e eu estava esperando tanto que era alguém dizendo que eles tinham encontrado.

- Oi amigo, tudo bem? a voz perguntou.

- Sim, o que é isso?

- Meu nome é Bianca, eu sou a menina com a tatuagem e eu vi você no porão. Se ela é quem eu penso que ela é, ela costumava ser minha vizinha e esse não é o seu nome.

- Ela roubou isso de mim.

- Eu não tenho tempo para explicar, mas eu preciso de seu endereço. A polícia está procurando por ela.

Sua voz tremia com uma emoção que eu não entendia. Então eu fiz. Dei-lhe o endereço de Bianca. Dentro de dez minutos a rua estava lotada de carros da polícia.

Eles descobriram meu cachorro, dentro de um saco no congelador. Havia vários corpos no porão. Eles encontraram uma parede coberta de fotos de mim, tomada através de minhas janelas durante a noite.

Bianca nunca foi encontrada.

Então, se aparecer alguém solitário muito interessado em ser seu amigo a sugestão é evitar.


É o melhor...para eles.